Norman Ohler escreveu um ótimo livro, intitulado High Hitler, que disserta sobre o uso de drogas pelos nazistas e como isso influenciou o ritmo da guerra.
Do livro extraí-se que aproximadamente 70 milhões de comprimidos da metanfetamina Pervitin foram utilizados pelos soldados alemães, e isso em apenas dois momentos. Trinta e cinco milhões durante a ofensiva contra o ocidente na França e trinta milhões na campanha contra a Rússia. No primeiro caso esse doping influenciou os chamados avanços-relâmpago, no segundo a resistência contra o exército russo. Do alto ao baixo escalão todos fizeram uso, soldados do exército, marinheiros e pilotos de avião. Ohler nos conta que na invasão da Bélgica: "Milhares de soldados pegaram a substância da bainha de suas boinas de campanha ou a receberam dos oficiais de saúde, puseram na língua, engoliram e tomaram um gole d'água em seguida. Vinte minutos depois chegou o momento e as células nervosas no cérebro despejaram os neurotransmissores. A dopamina e a noradrenalina intensificam, simultaneamente, a percepção e levaram o organismo para o estado de alerta absoluto. A noite aclarou: ninguém iria dormir; [...]" "A falta de vontade e a frustração das primeiras horas deram lugar a outros estranhos sentimentos. Teve início o que mais tarde ninguém conseguiria, a princípio explicar. Um gelo sinistro tomou conta do couro cabeludo de todos, um frio quente preencheu-os por dentro." [...] - um ataque químico ininterrupto no córtex cerebral fora iniciado, o organismo liberava nutrientes em quantidades elevadas, formando glicose de forma concentrada, de forma que a máquina andava na potência máxima e os pistões subiam e desciam cada vez mais rapidamente. A pressão sanguínea média aumentou em até 25%, os corações batiam acelerados no peito" (High Hitler pág. 108). O próprio Hitler tornou-se dependente de vários compostos farmacológicos, entre eles o Eukodal, um opioide duas vezes mais analgésico que a morfina, com potencial euforizante superior ao da heroína. Em uma certa circunstância o ditador estava bastante doente e debilitado, e acordou com fortes dores durante a noite, porém no dia seguinte ele teria um compromisso inadiável com Mussolini que estava pensando em desistir de sua aliança com Hitler. Theodor Morell, médico particular do führer, resolveu o problema aplicando duas doses de Eukodal. Hitler teve uma notável melhora e no encontro com Mussolini falou por mais de 3 horas. Ohler diz: " Deprimido, o duce foi encostado na parede pelo Führer revigorado artificialmente. O resultado do encontro: A Itália não se afastou. Morell sentiu-se legitimado. Parecia ter feito política pesada com suas injeções [...] "(High Hitler pág. 204) Ironicamente a propaganda política nazista era contra o uso de drogas, submetendo muitos viciados a tratamentos forçados ou à prisão. Por: Rodrigo Fabbio
0 Comentários
Pra quem gosta de história, história militar, história antiga e história de Roma, o livro A Legião de César, é um prato cheio e delicioso. Escrito por Stephen Dando-Collins, um especialista em história romana, o livro conta a saga da Décima Legião de elite de Júlio César. O profundo conhecimento de Collins, os detalhes e a forma de narração prendem a atenção do leitor do início ao fim. Destaco aqui alguns trechos do livro onde são apresentadas as características físicas e o treinamento militar dos romanos, assim como a indicação que a ingestão associada de carnes e vegetais (que no decorrer dos tempos deixaram de ser meros suplementos), parece que é responsável pelo aumento da estatura nos seres-humanos. Interessante também o fato de que contingentes (algumas vezes maiores do que as próprias legiões), seguiam o exército afim de tirar algum proveito comercial e econômico com as guerras e batalhas. "Assim, César tinha então sua 10ª Legião. Seis tribunos, todos jovens cavalheiros. Sessenta centuriões, todos originalmente provenientes das fileiras. E 5.940 homens alistados e oficiais não comissionados – no tempo de César, cada uma das dez coortes da legião possuía 600 homens. No tempo de César, também, o legionário tinha idade circunscrita entre os 17 e os 20 anos e se alistava para um serviço militar de 16 anos. Os legionários romanos tinham em média a altura de 1,63 metro, principalmente por causa da alimentação – que era baseada no pão. Carne e vegetais eram considerados meros suplementos. E batatas, tomates, bananas e café eram desconhecidos dos romanos. Mas, a despeito de sua baixa estatura, os legionários romanos eram bem preparados. Após um treinamento vigoroso e diário em armas e práticas de formação, eram capazes de marchar 40 quilômetros por dia, com equipamento que pesava mais de 50 quilos nas costas. Parte do treinamento da legião, implementado pelo cônsul Gaius Marius, 40 anos antes, envolvia o percurso de longas distâncias com todo o equipamento. Esses homens que se juntaram a 10ª tinham de estar bem preparados fisicamente – pois não apenas tinham que percorrer milhares de quilômetros nos anos seguintes, como também algumas das batalhas corpo-a-corpo não durariam apenas algumas horas, mas dias. (pág. 27). […] a 10ª Legião ajudou César a subjugar as tribos do ocidente da Península Ibérica, entre os rios Tejo e Douro, tribos como os calaeci e os lusitani, que deram seu nome a região, rumando o tempo todo para o Atlântico, na costa noroeste - “o Oceano”, como os romanos o chamavam. Uma após outra as cidades caíram e milhares de nativos foram mortos ou feitos prisioneiros. Os cativos eram vendidos em leilões para mercadores de escravos, que seguiam as legiões junto com outros catadores de lixo. Estes incluíam mercadores e prostitutas, que faziam a vida com as legiões, bem como as esposas de fato e filhos ilegítimos dos legionários e dos servos pessoais dos oficiais – hordas que, às vezes, eram conhecidas por excederem em número os homens do exército que elas seguiam." (págs. 29 e 30). (A Legião de César: A saga épica da Décima Legião de elite de Júlio César e dos exércitos de Roma. Stephen Dando-Collins. Madras Editora.) Por: Rodrigo Fabbio Apesar de seguir no Facebook, ter lido alguns de seus artigos publicados no seu blog (http://www.olavodecarvalho.org/) e ter assistido alguns vídeos de palestras, entrevistas e debates, só recentemente terminei a leitura completa de um livro escrito pelo Prof. Olavo de Carvalho. O livro em questão foi: O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras. Já fazia algum tempo que queria ler algum livro do Olavo, mas tinha dúvidas sobre qual começar, só sei que por algum conceito ou preconceito inerente e subjetivo, não queria começar pelo seu livro mais recente – O Mínimo Que Você Precisa Saber para não ser um idiota -, então escolhi a esmo; O Imbecil Coletivo. O que tenho a dizer é que através dessa leitura, além de tudo o que é possível aprender sobre os assuntos ali dissertados, é possível compreender porque Olavo de Carvalho é considerado um dos melhores e mais influentes filósofos da atualidade, pois enquanto a maioria da nação parecia alienada em berço esplêndido, ele, com pelo menos duas décadas de antecedência analisou, previu, expôs, questionou, argumentou, refutou e dissertou sobre a grande maioria dos assuntos políticos, culturais e sociais que hoje ocupam a nossa atenção. Pode parecer besteira, mas dissertando sobre a questão da validade de uma opinião/argumento ser verdadeiro ou falso pela simples adesão quantitativa (e não qualitativa), Olavo explica o que é democracia, o que na minha opinião foi uma das melhores que já vi, segue: "Em primeiro lugar, não existe nada de democrático no puro e direto governo da maioria. A democracia exige o respeito pelas minorias. Este respeito, por sua vez, nada tem de democrático se consiste apenas em deixá-las em paz no seu canto, intactas porém marginalizadas. A democracia começa no momento em que se concede à minoria o direito de tentar persuadir a maioria e tornar-se assim ela mesma maioria. Ora, isso pressupõe, como condição indispensável, que exista algum critério de verdade e erro que seja superior à lei do maior número. Se o único argumento válido em favor de uma ideia é que ela expressa o desejo da maioria, os argumentos da minoria ficam invalidados a priori e para sempre, a não ser no caso de uma mudança fortuita dos sentimentos da maioria. A democracia, longe de se identificar com o império da maioria, tem um de seus fundamentos essenciais na crença de que é possível a minoria ter razão contra a maioria. Esta crença é o único argumento que existe, aliás, em favor da liberdade de opinião. Se o critério mercadológico das aspirações coletivas se sobrepõe ao critério lógico da verdade objetiva, então a maioria tem sempre razão; e se a maioria tem sempre razão, a liberdade de expressão é desnecessária e até prejudicial, já que, em todos os casos e sem qualquer exceção concebível, haverá sempre uma e uma só opinião correta. Pior ainda, o “correto” não terá satisfações a prestar ao “verdadeiro”, e o que quer que pareça à maioria (ou a seus autonomeados porta vozes) bom e correto será automaticamente elevado à categoria de norma e de obrigação, por mais que sua execução contrarie as leis da natureza, a lógica elementar ou as exigências reais do estado de coisas. O império do “politicamente correto”, que impõe regras ao arrepio do mais elementar bom senso, que acredita, por exemplo, poder conciliar a total liberdade sexual com as suscetibilidades virginais de solteironas pudicas, é o que resulta de uma situação onde os desejos majoritários têm uma autoridade superior à da realidade mesma. É o reinado do wishfulk thinking. Por isto mesmo, a democracia não pode consistir no puro e simples império da opinião, mas da opinião fundada na razão." Sobre o livro: A obra faz parte e encerra uma trilogia que teve início com 'A nova era e a revolução cultural' (1994) e seguiu com 'O jardim das aflições' (1995), mas não é preciso ler os outros dois livros para entender este, como ressalta o autor: "Cada um dos três livros pode ser compreendido sem os outros dois. Mais difícil é, por um só deles, captar o fundo do pensamento que orienta a trilogia inteira." Ainda segundo o autor, a finalidade do livro é: "descrever, mediante exemplos, a extensão e a gravidade de um estado de coisas –atual e brasileiro – do qual A Nova Era dera o alarme e cuja precisa localização no conjunto da evolução das ideias no mundo fora diagnosticada em O Jardim das Aflições." Apesar da 1° edição ter data de agosto de 1996, o livro ainda é de uma atualidade ímpar, leiam sem medo. Por: Rodrigo Fabbio |
Aqui vamos falar sobre livros, filmes, peças, documentários e afins. Histórico
Junho 2018
Categorias |